Rubio Zapata, Miguel. Raíces y semillas: maestros y caminos del teatro en América Latina. Lima: Grupo Cultural Yuyachkani, 2011. 234 pages; US$15.00 brochura.
Raíces y semillas: maestros y caminos del teatro en América Latina, de Miguel Rubio Zapata, é um livro que reúne ensaios, crônicas, entrevistas e notas de trabalho. São escritos que possuem uma característica íntima e nos apresentam impressões pessoais do diretor frente a situações favoráveis, tanto para o conhecimento de novas possibiblidades para a práxis teatral, quanto para a reflexão teórica sobre essa prática no contexto latino-americano, que distingue-se pelas diversidades culturais e desafios no campo da política. O livro teve seu lançamento na 16ª Feira Internacional do Livro de Lima, em 2011, como parte das celebrações dos 40 anos do Yuyachkani, grupo peruano do qual Rubio Zapata é diretor e membro fundador desde 1971.
O primeiro texto, “El teatro y nuestra América,” é uma homenagem ao teatro latino-americano que o diretor profere pela primeira vez em maio de 2010, como discurso de agradecimento durante a cerimônia na qual recebeu da Universidad de las Artes de Cuba o título de Doutor honoris causa1. Nesse texto, Rubio Zapata expressa sua satisfação por fazer parte de uma tradição teatral latino-americana complexa e difícil de ser definida, porque “no es una sola, es indígena, es africana, es europea y es contemporánea, abierta a todas las prácticas escénicas del siglo XXI” (Rubio Zapata 2011, 19). A partir daí, o autor apresenta, indiretamente, a metodologia de seu trabalho nos demais textos do livro: trata-se de recordar e demonstrar a relação que manteve com outros diretores e grupos de teatro, dentro e fora do continente latino-americano, com os quais estabeleu férteis relações de amizade e aprendizagem.
O diretor dedica páginas de seu livro, por exemplo, ao colombiano Enrique Buenaventura, mestre responsável por apresentar ao Yuyachkani o método de criação coletiva do TEC (Teatro Experimental de Cali). Nos anos iniciais de trabalho, ainda que tivessem consciência de que estavam criando suas obras coletivamente, segundo Rubio Zapata, foi depois de conhecer esse método que seu grupo se dispôs a organizar dramaticamente os materiais que compunham seus espetáculos. Já nas páginas dedicadas a outro colombiano, Santiago García, Rubio Zapata oferece, além de uma entrevista, um relato no qual nos conta que foi com o diretor e fundador do Teatro La Candelaria que aprendeu que o teatro é um espaço de liberdade, onde o diretor, menos que dirigir, é apenas um organizador que “se vale del juego como herramienta central” (Rubio Zapata 2011, 67).
Sobre Atahualpa del Cioppo, o autor narra o encontro em que o Yuyachkani, voltando de uma turnê nos EUA, esteve com aquele, que encontrava-se exilado no México, acompanhado por seu grupo El Galpón, de Montevidéu. Rubio Zapata recorda-se da frase “El teatro es la representación de conductas humanas” (Rubio Zapata 2011, 58), dita por Cioppo anos antes, em Lima. Essa frase converter-se-ia na essência de seu ofício como diretor, adquirindo vários sentidos e transformando-se num pensamento que sempre o acompanha, auxiliando-o a “dar concreción al comportamiento escénico del actor y en general, a la búsqueda de señales de humanidad en la vida y en el escenario” (Rubio Zapata 2011, 58).
Generoso em passagens que partem de indagações pessoais, Rubio Zapata explora temáticas relativas ao trabalho do ator e que têm relação com as pesquisas de seu grupo. Isso torna-se claro, por exemplo, nas notas em que comenta sobre o seu encontro com o diretor brasileiro Antunes Filho e, logo, com a técnica do desequilíbrio, no ano de 1992. O diretor refere-se também de maneira especial às práticas teatrais oriundas de outros continentes que contribuíram para o enriquecimento cultural e profissional de seu grupo. É o caso das reflexões que nos apresenta sobre o grupo dinamarquês Odin Teatret e a perene interlocução existente entre ele e o Yuyachkani. Sobre o teatro tradicional chinês, cujos espetáculos teve oportunidade de assistir, além de ter frequentado aulas no Instituto de Ópera Tradicional de Pequim, Rubio Zapata fala sobre as semelhanças entre o trabalho de seu grupo e desse modelo de arte milenar.
A Edmundo Torres, artista plástico e ator que acompanha e enriquece o trabalho do grupo Yuyachkani, confeccionando máscaras e acessórios para os espetáculos, Rubio Zapata concede louros em um de seus textos, celebrando o tempo em que juntos constituíram uma parceria tão exitosa. No que refere-se às pesquisas do diretor sobre as origens do teatro no Peru, ele confere uma homenagem ao peruano Arturo Jiménez Borja. Estudioso da cultura andina, Jiménez Borja deixou importantes ensaios sobre a origem do teatro no Peru e coleções de máscaras e indumentárias utilizadas em contextos festivos. Esses materiais tornaram-se inspiradores para o diretor porque, segundo ele, permitem “abrir las puertas para indagar sobre una noción originaria del quehacer escénico en estas tierras” (Rubio Zapata 2011, 231).
Repleto de lições de aprendizagem e amor pelo teatro, Raíces y semillas: maestros y caminos del teatro en América Latina, além de ser uma reunião de textos que visam compartilhar as experiências do diretor ao longo de seus 40 anos de teatro de grupo, é um conjunto de homenagens àqueles que foram e são estímulos para a reinvenção constante do teatro feito na América Latina e, especialmente, do teatro que tem feito o Yuyachkani.
Carla Dameane Pereira de Souza é pesquisadora na área de literatura e teatro. Doutoranda em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários – da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve o projeto de pesquisa “A encenação do sujeito e da cosmogonia andina no teatro de César Vallejo e do Grupo Yuyachkani”, junto ao Nelap - Núcleo de Estudos de Letras e Artes Performáticas da Faculdade de Letras da UFMG, com bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Possui Mestrado em Teoria da Literatura (2009) e é licenciada em Letras/Espanhol pela Universidade Estadual de Montes Claros (2006). Realizou estágio de Doutorado no exterior, na Universidad Nacional de San Antonio Abad del Cusco, no Peru, com bolsa Capes PDEE (Programa de Doutorando no Brasil com Estágio no Exterior). Tem experiência no ensino de línguas e literaturas hispânicas e portuguesa (falada no Brasil).
Notas:
1 O leitor pode encontrar detalhes sobre essa cerimônia em: Carrió, Raquel. “Profundar un acto de Fe” e em Rubio Zapata, Miguel. “Por una teatralidad compleja, que nos reconozca en todas las matices de una identidad inclusiva.” Os dois artigos estão em Conjunto–Revista de teatro latinoamericano, janeiro–junho 2010. No 154–155. La Habana, Casa de las Américas. Ediciones Caribe.
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