4- Os Índios e a Música.
A música tem um papel de destaque dentro da maior parte das tribos indígenas brasileiras, através dela preservam uma importante parte de suas memórias e tradições. Utilizam-na ainda como símbolo ritual de fatos marcantes de suas vidas. Existem músicas para os atos biológicos (procriação, nascimento, puberdade, casamento e morte), para afastar ameaças (doenças, epidemias, flagelos etc) e para festejar fatos heróicos (caçadas bem sucedidas; vitória na guerra; triunfo no amor...). A música geralmente é marcada pelo ritmo, sempre é acompanhada da dança e do canto e tem uma escala tonal pouco extensa. Todo este conjunto produz um efeito semi-hipnótico o qual colabora para uma imersão coletiva na performance.
Há correntes que consideram essa possível predominância rítmica uma decorrência da censura dos jesuítas europeus à estrutura musical original dos índios brasileiros. Estas correntes defendem que as escalas harmônicas indígenas seriam muito diferentes da utilizada nos cantos sacros e que por isso, os jesuítas passaram a limitar a participação do índio à marcação percussiva, ao mesmo tempo em que introduziam os estudos do órgão, do cravo, do fagote e do violino. Tal fato se deu principalmente entre os Tupis e os Guaranis que mantiveram maior contato com os jesuítas. No entanto, a tese da existência de escalas musicais distintas da jesuítica ainda não foi provada de maneira convincente.
Figura 4
Rabeca Guarani Coletada no Litoral Sul de São Paulo em 1909
Acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Um ponto de grande divergência entre os musicólogos dedicados à música indígena brasileira é com relação à monotonia. Realmente é comum a utilização de poucas notas e quase nenhuma variedade de andamento ao longo da execução, mas isto pode ser compreendido também como uma música de extensão maior do que o habitual dentro da música ocidental. Esta característica seria uma marca inconfundível da resistência cultural da cultura indígena, o que a manteve impermeável aos contatos com outras culturas. Tal hipótese alicerça-se, ainda, no fato de que esta música está em profunda sintonia com a movimentação, tanto dos instrumentistas, quanto dos cantores. O padrão fisiológico está profundamente relacionado com o sonoro, resistindo ao ambiente natural e cultural e até mesmo à mistura do sangue.
O ritmo é, em geral, binário ou ternário, às vezes alternado em um mesmo verso. Dentro da marcação rítmica rígida, porém, a palavra parece ligada ao tom emocional. É comum entre os índios a passagem do discurso para a melopéia, bem como do gesto para a expressão dançada, tais ocorrências, porém, não têm o caráter de canto ou dança, são necessidades da expressão individual. A música indígena é predominantemente coletiva, casos de cantores solitários ou de estruturas melódicas mais variadas são considerados, geralmente, influências de outras culturas, em muitos casos africanas.
Figura 5
Uruá, flauta única formada por 4 tubos.
Deve ser tocada sempre por dois índios
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