Christophe Raynaud de Lage
La Casa de la Fuerza. Escrita e dirigida por Angélica Liddell. Produzida por Atra Bilis Teatro, Iaquinandi S.L., Comunidad de Madrid e Teatro de la Laboral. Culturgest. Lisboa, Portugal. 11 de fevereiro de 2011.
As mil e uma mortas de Ciudad Juárez
La Casa de la Fuerza faz uma ligação entre a biografia da autora, saída de um grande desgosto amoroso; o risco de vida das mulheres da região de Chihuahua, no México, de onde são originárias três das actrizes; e a condição feminina de modo geral. Com mais de quatro horas de duração, o espectáculo começa com uma série de canções de amor tocadas por um grupo de mariachis, passa para um conjunto de cenas sobre desafecto e violência conjugal e termina com a apresentação da história verdadeira das mortas de Ciudad Juárez, o assassinato em massa de centenas de mulheres nessa cidade fronteiriça do México. Grosso modo, a primeira parte seduz, a segunda horroriza, a última comove.
(O espectáculo foi feito em colaboração com a Entre Piernas Producciones, o Teatro Línea de Sombra, e o ICHICULT - Instituto Chihuahuense de la Cultura, do México.)
Apesar de fazer questão de mostrar as dores em público, equiparando-se às vítimas do feminicídio, e de se propor fazer um teatro do trauma, pessoal e colectivo, o melhor de Angélica Liddell (n. 1966) é o talento para criar o artifício teatral. A competência para moldar a estrutura rítmica dos espectáculos, a habilidade na articulação de luz, som e movimento, a eloquência da mise-en-scène e o modo como essas qualidades se amarram ao conceito do espectáculo, são realmente fora de série. Essas capacidades servem para melhor nos gravar na memória as coisas que interessam à autora. A duração serve esse propósito. Durante quase cinco horas, o espectáculo usa a verdade da passagem do tempo, do esforço físico, do suor, até do sangue, para nos colocar face a face com o tema: o uso da força na relação entre géneros.
A autora encontrou uma maneira de reeditar a tragédia nos tempos modernos. Se vivesse na Grécia de Ésquilo, provavelmente escreveria uma tragédia com prólogos, diálogos, deuses e coro, sobre a exigência de vingança, feita por uma sobrevivente, da morte de 400 mulheres. Como está no século XXI encena uma obra fragmentária sobre uma espanhola que é um misto de oráculo, coro e protagonista, e que procura vingar-se de um único homem. É o suficiente para a metáfora nos tocar. Angélica, que se apresenta na primeira pessoa, faz uma plebeia que se oferece como mártir. A heroína invectiva assim os reizinhos criados no seio do machismo. O crime que ela denuncia é o feminicídio, e o que ela defende é a liberdade.
O tema, porém, aconselha cautelas. Enquanto Liddell se apresenta em Lisboa, Madrid e Avignon, depois de temporadas no México a paisagem de fronteira do Novo Mundo não é terra para raparigas novas. Em Janeiro de 2011 foi assassinada uma mulher por dia. Grande parte das mulheres assassinadas eram maquiladoras, operárias desqualificadas, migrantes, empregadas em linhas de montagem de fábricas norte-americanas. Os homens que as assassinaram são narco-machos, peões no tráfico internacional de drogas, quer sejam polícias ou ladrões. Se o capitalismo foi inventado na Europa e exportado com sucesso, é em Ciudad Juárez que existe na forma mais selvagem. As piadas machistas são actos cúmplices dos assassinatos, sim, mas também o são o consumidor ocasional, destinatário final do tráfico internacional de drogas, ou o investidor com participações nas fábricas de El Paso.
Liddell põe de lado qualquer explicação relacionada com uma crítica do capitalismo, e quase reduz os assassinatos a uma luta de sexos de contornos melodramáticos. Contudo, talvez seja a única maneira do público europeu começar a imaginar o horror do que acontece na fronteira do México com os Estados Unidos. A Espanha é um dos maiores consumidores mundiais de cocaína e Liddell consegue que o espectador europeu se sinta solidário, se não responsável, pelo que acontece do outro lado do Atlântico.
Tendo como pseudónimo Liddell, o nome verdadeiro da menina que inspirou a Alice de Lewis Carroll, Angélica tenta provocar uma subjectividade activa no meio das fantasias que justificam o real. A crítica explícita ao capitalismo não interessa a Liddell, que prefere desmontar a sociabilidade quotidiana do regime patriarcal. A maior ameaça a esse regime é precisamente a liberdade, neste caso da mulher. É essa liberdade que esta obra exerce, em cena, graças à unidade entre biografias, personagens e performance, permitindo às mulheres do palco e da plateia adquirir a força para responder.
Jorge Louraço Figueira (n. 1973) escreveu O Espantalho Teso, Xmas qd Kiseres e TeleGanza, entre outros textos. Traduziu Cidadania, de Mark Ravenhill; Senti um vazio, de Lucy Kirkwood; e Onde é quês esconderam as respostas, dos Third Angel. Formado em relações internacionais e em antropologia social, fez a Oficina de Escrita Teatral de António Mercado no Teatro nacional de São João, Porto; o Seminário Traverse Theatre nos Artisas Unidos, em Lisboa; a Residência Internacional do Royal Court Theatr, em Londres; e o Seminário de Escrita Teatral de J.S. Sinisterra no Teatro Nacional Dona Maria II, em Jisboa. É docente de Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, e crítico de teatro do jornal Público. No Brasil, publicou Verás que tudo é verdade, sobre o grupo Folias; escreveu a peça de teatro Cabaré da Santa, com Reinaldo Maia; e fez a dramaturgia de Êxodus, pela qual foi nomeado para o prémio de melhor dramaturgia de Associação Paulista de Críticos de Arte.
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