Excerto
REVISTA SALA PRETA - Como começou a sua vida no teatro e na luta das mulheres maias?
PETRONA DE LA CRUZ CRUZ – Iniciei no teatro quase ao final dos anos 90. Quando tinha 17 anos fui sequestrada e violada. Deste estupro, fiquei grávida. Quando nasceu meu filho, eu nem sabia que estava grávida. Nunca suspeitei. Fiquei sabendo três horas antes do parto quando o médico me disse que eu ia ser mãe. Na minha comunidade não se falava de menstruação ou de relações sexuais. Era como falar de um pecado. Meus pais também não sabiam que eu estava grávida e, de repente, tive um filho. Um mês após o nascimento do meu filho, minha mãe morreu. Ela entrou em coma assim que ele nasceu. Eu passei a cuidar da casa, dos meus cinco irmãos e de meu pai. Depois de um ano da morte de minha mãe, meu pai se casou novamente e eu fui expulsa de casa porque eu já não servia mais. Eu fui trabalhar em vários lugares, de feira em feira, com o meu filho ainda bebê. Quando voltei à minha comunidade, não me aceitaram porque eu era uma mulher que havia “fracassado” e cometido um grande pecado. Como na casa de meu pai eu não era bem vinda, fui morar com uma tia. Disse a ela que eu queria continuar estudando. Ela me disse: “Você me ajuda durante a manhã e vai para a escola à tarde e te auxilio com os cuidados do seu filho. E eu não vou te pagar pelo serviço, é uma troca por eu te ajudar”. Quando eu estava estudando, fiquei sabendo de um projeto sobre planejamento familiar que resultava na montagem de uma peça de teatro. Eu me integrei a este grupo, um coletivo misto de dez homens e duas mulheres. A peça se chamava “Entre menos burros, mais espigas de milho” e nos apresentamos em muitas comunidades. Mas, como eu vinha de uma vida muito difícil, de um estupro, eu tinha muito medo de estar com homens. Eu pensava que eram todos iguais. No palco isso mudou, fui perdendo pouco a pouco o medo. Senti que o teatro era para mim uma terapia, cada vez que me apresentava tirava toda a dor e a tristeza que havia dentro de mim. Era um modo de continuar. O caminho que eu queria seguir era o teatro. Eu continuei fazendo teatro e nos anos 90 fui convi- dada para um encontro de dramaturgas em Toronto, no Canadá. Escrevi, então, minha primeira peça, Una mujer desesperada (Uma mulher desesperada) baseada em parte na minha história pessoal, da minha família e do meu povoado. E aí começou a minha trajetória como atriz e escritora.
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