A obra A missão: lembranças de uma revolução, de Heiner Müller, evoca a estória de uma revolta de escravos na Jamaica logo após a Revolução Francesa. Três homens, Debuisson (um proprietário de terras jamaicano), Galloudec (um camponês britânico) e Sasportas (um jovem negro idealista, que quer ver a nova República Haitiana Negra), são enviados para a Convenção Francesa para liderar uma revolta escravocrata na colônia inglesa. A missão é uma reflexão sobre como as ideias são exportadas do espaço hegemônico para a periferia e sobre como a memória, através da visão política do presente, nos alcança atualmente. A obra de Müller explora a dialética poética do fragmento, evitando relatos conclusivos e convidando a audiência a envolver-se ativamente. O fragmento torna-se uma fonte de produção de conteúdo, num ato político que evita clichês pré-fabricados e padrões produzidos pela mídia. O fragmento provoca uma colisão instantânea entre temporalidades heterogêneas, combinando uma visão crítica da história, para a desconstrução da linguagem discursiva cartesiana. A combinação do fragmento com a poética teatral do corpo opõe-se à linguagem do poder e do conceito, uma vez que o ato intelectual é secundário à experiência, a algo que não pode ser imediatamente determinado, e que precisamente por este motivo torna-se uma experiência duradoura.