Photo/Foto: Fran Pollitt
O retorno do corpo-que-sabe
O recalque do corpo-que-sabe é a violência maior do empreendimento colonial, da perspectiva micropolítica. Tal operação encontra-se na medula da cultura moderna ocidental que se instaura com a colonização e ainda hoje nos estrutura. Os efeitos tóxicos deste recalque chegam agora ao limite gerando o tsunami da atual crise mundial. Criar as condições para o retorno do corpo-que-sabe – livre das sequelas de seus traumas –, torna-se assim tarefa incontornável de resistência ao atual estado de coisas. Não se trata de futurologia: sinais de tal retorno vem insinuando-se ao “sul-global”; um sul que são vários e cujos contornos não se limitam geograficamente. São lufadas de oxigênio pensante nos pontos de asfixia vital de nossa contemporaneidade redesenhando incansavelmente suas paisagens. Não seria precisamente esta a potência política própria da arte?
Biografia
Suely Rolnik é psicanalista, crítica de arte e de cultura e curadora. É Professora Titular da PUC-SP (Pós-Graduação de Psicologia Clínica) e membro do corpo docente do Programa de Estudios Independientes (PEI) no Museo d’Art Contemporani de Barcelona (MacBa). É autora, entre outros livros, de Micropolítica: Cartografias do desejo, com a colaboração de Félix Guattari, publicado em 7 países.