Photo/Foto: Alexandre Nunis
Queridos amigos e colegas,
Sejam bem-vindos ao 8º Encuentro Internacional do Instituto Hemisférico e à comemoração do nosso aniversário de 15 anos! Desde a sua fundação em 1998, o Hemi tem se dedicado a criar um espaço de interação e diálogo entre artistas, ativistas e acadêmicos nas Américas.
Por que estudar os corpos e as práticas corporais? O que podemos aprender e compartilhar explorando a prática ao invés de privilegiar produtos artísticos, ou documentos e registros históricos? Foi o que nos perguntamos no nosso primeiro Encuentro (Rio de Janeiro, 2000). De que formas as práticas religiosas sustentaram séculos de cultura e crença enquanto ao mesmo tempo privaram pessoas de seus direitos e liberdades, inclusive por vezes ameaçando comunidades de extinção cultural (Nova York, 2003)? Nós combinamos as nossas forças para confrontar questões constantes relativas à violação de direitos humanos, à memória e ao trauma (Monterrey, 2001) e para recolocar em foco a presença contínua das ações indígenas de arte e resistência (Belo Horizonte 2005). Nós investigamos formações de raça, classe e gênero (Buenos Aires, 2007), exploramos o que significa ser cidadão (Bogotá, 2009) e as mudanças nas noções de espaço público provocadas pela migração, o exílio e a globalização (Lima, 2002). Todas essas problemáticas continuam sendo urgentes e ganham nova vida a cada Encuentro, muitas vezes como resultado das colaborações e ideias desenvolvidas em Encuentros anteriores. Ainda que artistas, ativistas e acadêmicos trabalhem há muito tempo nas interseções entre essas questões, os Encuentros nos oferecem um espaço para compartilhar nossas práticas e desenvolver novos relacionamentos e novas redes.
O Encuentro deste ano, CIDADE | CORPO | AÇÃO: A política das paixões nas Américas, aprofunda a nossa exploração de terrenos urbanos como áreas de coexistência, conflito e colaboração. As lutas têm sido múltiplas: depois de décadas de guerras sujas e desigualdades econômicas crescentes, as cidades se converteram no receptáculo das grandes migrações internas de pessoas deslocadas que acabam morando em regiões periféricas ou deterioradas. Os projetos de renovação urbana e gentrificação nas Américas têm empurrado os já marginalizados ainda mais para as margens. O centro da cidade, de acordo com o neoliberalismo, parece ser reservado para as mercadorias, os consumidores e os turistas. Nos últimos anos, estudantes e ativistas têm tomado as ruas das cidades, de Montreal a Santiago, para defender seu direito à educação, à liberdade de reunião e a um futuro economicamente viável. Os manifestantes acampam em barracas em cidades tão grandes quanto México e Nova York. Artistas intervêm nos lugares mais inesperados, destacando a criatividade e a vitalidade das comunidades mais negligenciadas. Este Encuentro, apropriadamente sediado em São Paulo, chama à atenção a cidade como cenário das lutas sociais contemporâneas.
Eu gostaria de agradecer a todas as pessoas e instituições no Brasil que acolheram e coproduziram este Encuentro, mas particularmente a minha amiga e colega Elisabeth Silva Lopes, professora da Universidade de São Paulo. Ela tem sido uma companheira dedicada e inspiradora. Gostaria também de agradecer a Danilo Santos de Miranda e toda a equipe do Sesc, assim como a Ivam Cabral e seus colegas da SP Escola de Teatro, pela sua hospitalidade e apoio. Nossa gratidão também a Ricardo Muniz Fernandes e sua equipe de produção na PROD.ART .BR, sem os quais este evento não teria sido possível.
Além disso, eu gostaria de agradecer à equipe do Hemi que se dedicou a esse Encuentro — todos, desde os nossos funcionários em tempo integral Marlène Ramírez-Cancio, Marcial Godoy-Anativia, Niki Kekos, Frances Pollitt — até o nosso fabuloso time em tempo parcial — Zoe Lukov, Lisandra María Ramos, Abigail Levine, Zena Bibler, Marcos Steuernagel, Letícia Robles-Moreno, Cristel Jusino Díaz, e a todos que ajudaram com as muitas demandas de organizar um evento como este.
Mas o Encuentro, apesar de central, é apenas uma parte do Hemi. O que fazemos aqui, nesses nossos intensos dias juntos, tem uma vida que continua na nossa biblioteca de vídeo digital e nos nossos perfis de artistas; em e-misférica, a revista trilíngue online com revisão por pares do Hemi; nos nossos cursos, módulos de ensino e livros; e nos nossos centros. Hemi New York acolhe artistas e pesquisadores visitantes, e dá estrutura para a apresentação de novos trabalhos e o treinamento de artistas emergentes. Nossa colaboração contínua com o FOMMA, o grupo de teatro de mulheres maias em San Cristóbal de las Casas, Chiapas, tem fortalecido os nossos laços hemisféricos e nos oferecido uma casa para o curso Arte e Resistência. A Iniciativa Hemi de Estudantes de Pós-Graduação organiza “convergências” anuais para estudantes de todas as Américas. Em resumo, tudo o que fazemos apoia nossa visão e prática compartilhada.
O Hemi, como um projeto compartilhado, depende do constante apoio, generosidade e dinamismo de muitas pessoas e instituições. Eu quero reconhecer e agradecer à New York University pela infraestrutura e apoio que ela tem nos oferecido durante todos esses anos. Alguns dos nossos colaboradores maravilhosos têm sido as fundações parceiras. A Ford Foundation é nossa colaboradora mais antiga — e aqui, Roberta Uno e Mario Bronfman merecem nossa gratidão especial. A Rockefeller Foundation, a Andrew Mellon Foundation, a Henry Luce Foundation e o Rockefeller Brothers Fund nos ajudaram a desenvolver partes específicas do projeto. Nossa profunda gratidão também para as Instituições Membros e maravilhosa diretoria pela sua rica contribuição para o nosso trabalho colaborativo. Finalmente, agradecemos aos milhares de artistas, acadêmicos, ativistas, estudantes e criadores culturais cuja paixão e compromisso têm sido a energia e a essência de tudo o que fazemos.
Quinze anos, e que venham mais!
Desejando a todas e todos um Encuentro produtivo,
Diana Taylor
Diretora Fundadora
Instituto Hemisférico de Performance e Política
É com grande prazer que damos as boas vindas a todos os participantes do 8º Encontro do Instituto Hemisférico de Performance e Política. A realização, no Brasil, de um encontro sobre a performance nas Américas é, sem dúvida, a afirmação e a valorização das manifestações artísticas do continente e reflete a importância sempre crescente do país no cenário internacional, não apenas em relação às conquistas econômicas, mas também às artísticas, culturais e sociais. Além disso, representa o estreitamento do diálogo entre a Universidade de São Paulo e o Instituto Hemisférico, assim como a aproximação efetiva entre a comunidade universitária e os habitantes da cidade de São Paulo, além do aprofundamento dos laços culturais, acadêmicos e artísticos entre artistas, estudiosos e instituições de diferentes regiões brasileiras e das Américas. Certamente, são vínculos que definem um largo passo para a permanente troca de experiências e intercâmbios entre as instituições e seus pesquisadores.
A importância dessa realização liga-se, também, à temática do evento, Cidade, Corpo, Ação, voltada às ocupações urbanas e à interferência performativa nos espaços públicos, que se associa à exploração da “corpografia” das grandes metrópoles americanas do norte ao sul. É inegável que o apaixonante foco temático garante o interesse do artista e do pesquisador brasileiro nesse amplo intercâmbio de temas, corpos e geografias. O 8º Encontro sem dúvida garante o diálogo entre as performances divergentes das Américas, além de contribuir para uma reflexão coletiva em busca de respostas artísticas para as questões de ordem política e social dos diferentes países. As parcerias são a solidificação das relações sociais entre o público e o privado, difundindo arte, cultura e pensamentos produzidos no âmbito de instituições congêneres, como as universidades e os artistas participantes de todas as Américas. Cabe ressaltar que a qualidade da proposta amplia a rede de relações com universidades de todas as Américas, desde as regiões vizinhas às mais distantes, com as quais temos raras oportunidades de aproximação e compartilhamento de pensamentos e produções artísticas.
Gostaria de agradecer a muitas pessoas, em especial a Diana Taylor, reconhecendo nela essa formidável capacidade de motivar e agregar, transformando a cidade de São Paulo em um espaço de ideias e performances, ao integrar artistas e pesquisadores de todas as Américas no 8º Encontro. Quero demonstrar também minha admiração por Marlène Ramírez-Cancio e Marcial Godoy-Anativia, cuja dedicação e extremo rigor na realização do Encontro não teve limites, assim como desejo agradecer a todos os demais integrantes desse prestigioso Instituto. Agradeço a meus colegas e amigos, como a chefe do departamento de Artes Cênicas, Helena Bastos, pelo entusiasmo contagiante, a Zebba Dal Farra, Felisberto Sabino da Costa e Silvia Fernandes pelo apoio incondicional, aos queridos funcionários do Cac, especialmente a Roby e Jôsi, incansáveis na produção desse grande evento. Devo agradecer imensamente à USP pelo incentivo, em especial à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, pelo apoio ao projeto de Intercâmbio de Atividades de Cultura e Extensão, sem o qual esse evento não teria sido possível. Do mesmo modo, tenho que reconhecer e agradecer o apoio da FAPESP e da CAPES. Também é preciso agradecer à direção da Escola de Comunicações e Artes da USP, especialmente ao Diretor Prof. Mauro Wilton de Souza e a Vice-diretora Maria Dora Genis Mourão que, desde o início, aceitaram esse desafio. Não posso deixar de agradecer também a Ivam Cabral e Lúcia Camargo, assim como a todos os parceiros da SP Escola de Teatro, que abriram suas portas com tanto entusiasmo e simpatia. Agradeço a todos da Interiores Produções, especialmente pela dedicação de Ricardo Muniz Fernandes e Carminha Gongora. Finalmente agradeço ao Sesc, pelo interesse e apoio à arte e à cultura brasileiras.
Beth Lopes
Diretora teatral, professora e pesquisadora
Departamento de Artes Cênicas Escola de Comunicação e Artes / Universidade de São Paulo
“Sem liberdade não há arte; a arte vive somente das restrições que ela impõe a si mesma, e morre de todas as outras”
Albert Camus, em Resistência, Rebelião e Morte
O pensamento do escritor argelino – cujas raízes humanistas manifestam uma reiterada reflexão sobre a liberdade – confere à arte e à cultura de forma mais ampla, o arcabouço expressivo de todo o livre arbítrio. A despeito de todas as defesas que continuaremos a fazer contra o exército de obrigações que ameaça estas esferas, não podemos negar: manter a liberdade é necessariamente um movimento político que interdita os territórios proibidos, oferecendo-lhes resistência.
Tanto o corpo em sua individualidade, quanto o espaço urbano, macro corpo de múltiplas relações, são territórios repletos de tensões resultantes de um sem número de informações. São espaços oportunos para cenas de encontros e desencontros, excessos e carências, entendimentos e desavenças, ódios e paixões, entre outras dualidades inerentes à vida.
Tomando por referência a performance, que é uma palavra cujas possíveis origens latinas são formare, “dar forma”, ou performatus, “acabado de formar”, obtemos significado de processualidade. Como se realiza no encontro entre o corpo dos artistas e as reflexões daqueles que são testemunhas desta construção, é uma arte que se alcança existência socialmente. Trata-se de um momento de vínculo entre pessoas cujas histórias e apreensões são diferentes, mas no qual há uma inevitável experiência compartilhada no tempo espaço, daí sua afinidade com os movimentos sociais, tantas vezes tributários deste recurso estético.
Possibilitar o encontro que propicia uma formação integral dos indivíduos, baseada na articulação das diversas manifestações culturais em sua feição educativa, mobilizadora e, sobretudo, transformadora, está no cerne das ações do Sesc. Por isso, é uma oportunidade valiosa reunir representantes das artes, do universo acadêmico e dos movimentos sociais junto ao Instituto Hemisférico de Performance e Política, à Universidade de São Paulo e a SP Escola de Teatro, para a 8º edição do encontro, denominada apropriadamente Cidade | Corpo | Ação: A política das paixões nas Américas.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo